Infrassons das eólicas podem afetar saúde das populações num raio de 15 quilómetros

Um estudo de João Almeida, docente da Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Politécnico de Coimbra (ESTeSC-IPC), mostra que os ruídos não audíveis provocados pelas turbinas eólicas podem afetar a saúde das populações residentes até, pelo menos, 15 quilómetros de distâncias dos parques eólicos. A investigação foi apresentada em livro no dia 2 de dezembro, no âmbito da coleção “Ciência, Saúde e Inovação – Teses de Doutoramento”, editada pela ESTeSC.

Após um estudo realizado nas imediações (até uma distância máxima de 15 quilómetros) de três parques eólicos do distrito de Leiria – Cela (Alcobaça), Marvila (Batalha) e Chão Falcão (concelhos de Batalha e Porto de Mós) – João Almeida concluiu que “a distância não é um fator relevante na redução dos níveis de ruído, em especial dos infrassons e do ruído de baixa frequência”. O impacto pode, no entanto, ser afetado pela velocidade do ar: quanto maior a velocidade do ar, maior a pressão sonora. O perfil do terreno, a existência de grutas, a proximidade à costa e a existência de florestas são outros fatores com influência na propagação do ruído.

Apesar dos avanços tecnológicos, as turbinas eólicas ainda produzem infrassons resultantes da sua mecânica e aerodinâmica, assim como infrassons de ruído e baixa frequência, que podem afetar a qualidade de vida das populações humanas e animais. Este impacto pode ser dividido em duas categorias: uma mais ligeira, que se caracteriza por mal-estar geral e prolongado, com dores de cabeça, dificuldade em dormir, falta de concentração ou irritabilidade, entre outros sintomas; e outra mais grave, com problemas pulmonares (muita tosse e dificuldade em respirar), apneias, arritmias cardíacas ou espessamento do pericárdio, a dupla membrana que envolve o coração.

“É importante adotar medidas de gestão territorial tomando em conta a proteção da saúde pública, particularmente na instalação de parques eólicos a distâncias consideradas seguras, incluindo os infrassons e o ruído de baixa frequência em estudos de impacte ambiental”, aponta João Almeida, alertando para “um lapso na legislação portuguesa”, que não prevê a medição e análise de infrassons nos estudos de impacto ambiental necessários à instalação de parques eólicos.

 

Marta Pinto (vice-presidente da ESTeSC-IPC), Paulo Nossa e Mariana Alves-Pereira (orientadores do estudo), João Almeida (autor do estudo) e João José Joaquim (presidente da ESTeSC-IPC).